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AMIZADE ENTRE PROFESSOR E ALUNO: ATÉ QUE PONTO?
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Lançamento da Cortez Editora, Da autoridade pedagógica à amizade intelectual uma plataforma para éthos docente traz reflexões do professor Julio Groppa Aquino sobre o tema. |
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Importante referência no meio acadêmico de estudos relacionados à sociologia da educação e a formação de professores, o professor Julio Groppa Aquino lança, pela Cortez Editora, o livro Da autoridade pedagógica à amizade intelectual uma plataforma para éthos docente. Na obra, que é uma versão atualizada de sua tese de livre-docência defendida na Faculdade de Educação da USP em 2009, Aquino discorre sobre ponto que considera crucial do processo pedagógico: a relação do professor e do aprendiz.
Na obra, o professor convida o leitor a refletir sobre o exercício da autoridade desenvolvido pelos professores. Recorre à teoria de expoentes como o pedagogo francês Louis Riboulet, que defende o educador como um gerenciador de condutas, para trazer à tona questões como a importância da humanização das relações entre mestres e alunos.
Discorre sobre a realidade contemporânea vigente nos centros educacionais, onde alunos exigem respeitos horizontais e para os quais a relação pedagógica correta teria natureza igualitária, com mutualidade de respeito e equilíbrio de sentimentos. Como o professor deve se posicionar frente à essas mudanças? A autoridade do educador na sala de aula, pura e simplesmente embasada no ideal do “quem sabe mais” exerce poder sobre “quem sabe menos”, estaria fadada ao insucesso?
Aquino defende modelo que vai além da imposição da autoridade pela força e sustenta, semelhante a outros de seus trabalhos já publicados, a não responsabilização direta do aluno pelo mau desempenho educacional vigente. “Entre o catastrofismo discursivo dos profissionais da educação e o salvacionismo visionário dos atores civis externos às práticas escolares, funda-se uma espécie de cortina de fumaça que camufla os usos e os costumes de uma instituição à deriva que, na linha do tempo, viu-se converter em um mero depósito da infância e da juventude, incapaz de promover um diálogo substancial com aqueles sob seu domínio – e isso e qualquer nível de escolaridade ou esfera gestionária”, aponta.
Para ele, a amizade intelectual entre esses atores poderia ser meio eficiente para driblar o constante estado de tensão existente em muitas salas de aula atualmente. “Na contemporaneidade pedagógica, não se trataria de vigiar e punir a anormalidade, mas de convertê-la em diversidade biopolítica, por meio de uma espécie de inclusão preventiva da diferença. Dito de outro modo, os fazeres escolares visariam não à segregação dos diferentes, mas à adesão voluntária de todos, não a coerção, não à conteção dos corpos, mas à incitação da coletividade rumo à ideais consensuais”, explica o professor.
A beleza da dignidade da amizade, para Aquino, resisidiria no ato de provocar no aluno inquitação e amor pelo conhecimento. Ou seja, em lugar da obediência pela força, educadores deveriam cultivar a parceria. No entanto, essa construção não estaria baseada em slogans que pregam que as novas gerações devem ser tratadas à base de tolerância e carinho, o que, para o autor, nada mais são que eufemismo para vistas grossas. A rigor, se encaixariam neste perfil, defendido pelo especialista, aqueles professores, até certo ponto, tidos como mal-humorados, que não desejam nem fomentam nenhuma admiração pessoal, nenhum compartilhamento de intimidades, nenhuma sedução para agradar o alunado, mas que são rigorosos e excelentes no que diz respeito ao ato de compartilhar conhecimento.
Para aqueles que buscam fugir do destino estereotipado da educação e conferir à experiência pedagógica o valor de descoberta e de ampliação de olhares, este livro representa referencial precioso.
Sobre o autor
Julio Groppa Aquino, é livre-docente 3 da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, com mestrado e doutorado em Psicologia Escolar pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, bem como pós-doutorado pela Universidade de Barcelona. Pesquisador do CNPq e da Fapesp. Vem desenvolvendo trabalhos de pesquisa voltados à apropriação do pensamento foucaultiano na pesquisa educacional brasileira, bem como aos processos de governamentalização em curso na atualidade educacional, especialmente aqueles em torno das práticas de escrita. É autor, co-autor e organizador de um conjunto de artigos, livros e capítulos, sempre com vistas a uma crítica sistemática à mentalidade educacional em voga, tanto em sua versão formal quanto na não formal, conclamando uma reinvenção radical dos modos de endereçamento às novas gerações.
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