Previsto para outubro deste ano, o início das filmagens de Avatar II gera expectativas em plateias do mundo inteiro. Lançado em 2009, o filme de James Cameron retrata a tentativa desesperada do homem de dominar Pandora, um dos satélites do Planeta Polifemo, no sistema estelar binário de Alpha Centauri, com o objetivo de extrair recursos naturais de seu solo.
Ficção científica a parte, “Pandora” foi mesmo descoberto. O planeta extrassolar é o mais próximo da Terra até agora, a apenas 4,367 anos-luz de distância. Esta notícia foi manchete da revista Nature em 16 de outubro de 2012, com o título “Um Exoplaneta na Vizinhança — Mundo do Tamanho da Terra descoberto nas proximidades do sistema estelar de Alpha Centauri”, na página on-line do importante periódico científico inglês.
Famoso por suas obras de ficção cientifica, Stephen Baxter faz o caminho inverso em A Ciência de Avatar, que chega ao Brasil pela Editora Cultrix. O ponto de partida do livro é ficcional, mas a obra é, fundamentalmente, sobre descobertas científicas reais, nas quais James Cameron e sua equipe se basearam para produzir o filme. Trata-se, assim, de uma obra de ciência de vanguarda, voltada para fãs do universo Avatar, cientistas e curiosos em geral.
Baxter mostra que muitas das características do mundo ecológico e equilibrado de Avatar são impossíveis, mas ressalta que mesmo a ficção contida na obra está amparada na tradição da ficção científica hard - isto é, ficção científica que tenta se manter fiel às leis científicas como as conhecemos, com extrapolações coerentes e consistentes. Um exemplo?
Avatar narra a luta entre dois mundos opostos: o planeta Terra, habitado por nós humanos, e Pandora, morada dos Na’vis. Dominado pela avareza, o homem devastou seu planeta e, agora, busca no vizinho, um precioso supercondutor de eletricidade: o unobitanium. As propriedades do unobitanium permitem que partes das montanhas de Pandora levitem, desafiando a gravidade e causando encantamento a Jake Sully e aos milhões de espectadores no filme.
Segundo Baxter, por mais que unobitanium signifique algo inalcançável e seja usado frequentemente por engenheiros para classificar qualquer substância ideal necessária para conseguir o impossível, “talvez não seja impossível obter o unobitanium. A supercondutividade é uma propriedade real. E um supercondutor pode mesmo desafiar a gravidade, ao menos na presença de um campo magnético”. O efeito de levitação magnética, ou maglev, pode ser controlado com um mecanismo de transporte de cargas sem fricção. No Japão, em 2003, um trem maglev atingiu a velocidade de quase seiscentos quilômetros por hora, muito mais rápido que os convencionais.
Outro exemplo de tecnologia disponível hoje e em uso em Avatar é o tanque amniótico no qual o corpo de Jake é cultivado durante sua longa viagem à Pandora. O tanque é uma espécie de útero artificial empregado para cultivar órgãos e membros substitutos, animais clonados e às vezes humanos clonados. Claro que no filme, Cameron faz uso de licença poética e vai além. Mas Baxter nos mostra que os pressupostos de Cameron são baseados em projetos e pesquisas reais.
Uma realidade que tem gerado polêmica e foi explorada em Avatar diz respeito à tecnologia militar aplicada na guerra contra os Na’vis, que tem sido usada por potencias como EUA e Israel em guerras pelo mundo. Neste quesito, destacam-se os exoesqueletos militares, que são semelhantes a um robô que pode se “vestir”, uma espécie de armadura robótica, com os movimentos dos membros sustentados ao menos em parte pela fonte de energia. Seu objetivo é oferecer mais força e velocidade, bem como blindagem e amplificação sensorial em relação aos seus controladores humanos. Há até um exoesqueleto para civis, uma máquina de corpo inteiro que está sendo comercializada no Japão e utilizada por idosos e pessoas com dificuldades de locomoção.
Essas e outras questões que vêm a tona quando o espectador acaba de assistir ao filme são respondidas pelo autor: é possível que exista a transferência da consciência de um corpo a outro? Podemos manufaturar objetos que precisamos como a RDA faz em Pandora? Viagens interplanetárias, já são uma realidade viável? Há planetas orbitando o sistema Alpha Centauri? Poderia Pandora existir?
Com uma linguagem simples e certeira, Baxter conduz o leitor aos bastidores de Avatar, que teve a maior bilheteria da história e responde cada uma das questões suscitadas pelo filme, revelando que podemos estar muito mais próximos do mundo dos Na’vis do que imaginamos.
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